Legado

“Legado”

James Kerr

Os All Blacks talvez sejam uma das equipes mais vencedoras de toda a história dos esportes, em todos os tempos. Ao longo de sua trajetória de mais de 100 anos, detêm a impressionante marca de 75% de vitórias em torneios oficiais. Sem dúvida que estes caras entenderam como formar times vencedores e como extrair o melhor de cada um dos membros da equipe.

James Kerr, um consultor especialista em marcas de grandes empresas, se aprofundou na cultura da equipe de rugby da Nova Zelândia e com a ajuda de vários ex-all blacks, com conversas com líderes de outros esportes e de outras referências externas, montou um mosaico com os 15 principais elementos de liderança que compõem um time vencedor.

São lições importantes para um empreendedor, que dependerá em grande medida de um time forte e coeso para sobreviver e vencer. Alguns destes elementos são comuns a outras abordagens que já vimos por aqui (caráter, aprendizagem, propósito, preparação, responsabilidade, adaptação, autenticidade, sentido de equipe), outros não foram aprofundados ainda, mas ainda chegaremos neles (expectativas, pressão, sacrifício, linguagem).

Eu gostaria de destacar os três últimos elementos dos 15 abordados no livro e que considero diferenciais não tão óbvios, mas que levam os times a outros patamares de excelência:

Ritual: sem dúvida que o Haka é o ritual mais famoso dos All Blacks. Mas está longe de ser o único. Toda a cultura do time é transferida através de pequenas metáforas e rituais passados aos jogadores e demais membros do time no dia a dia. Quando chegam ao time, quando estão no ônibus se preparando para os jogos, nos vestiários após as partidas, na interação com os torcedores. São regras que garantem uma comunicação mais efetiva e que vai direto ao coração do grupo. “Os rituais são a chave para reforçar essa cola emocional”. Organizações de pessoas (uma família, um time, uma empresa) que conseguem sintetizar sua cultura e seus valores em pequenos (ou grandes) rituais são mais eficazes em criar coesão, comprometimento e sacrifício de todos. Fazem com que todos se sintam parte de algo maior que eles mesmos. “Diga-me e eu esquecerei. Mostre-me e eu talvez me lembre. Envolva-me e eu aprenderei”.

Ancestralidade (Whakapapa): despertar em uma equipe este sentimento de que você está no time de passagem, de que é uma parte de uma engrenagem maior que tem passado, presente e futuro. De que você está lutando não somente por seus objetivos ou de seu time num campeonato, mas de que está defendendo uma linhagem. Os All Blacks têm a missão de deixar a camiseta em melhor estado do que a recebeu. E isso não é pouca responsabilidade considerando as lendas que já vestiram a camisa. Conseguir formar esta rede de sentimentos quase místicos não é para qualquer organização de pessoas. Quando chegam a este patamar Como dizem os gregos, “a sociedade se desenvolve da maneira certa quando os velhos plantam árvores cuja sombra eles nunca verão”.

Legado: é disso que se trata. De deixar a sua marca. “O que você deixa para trás não é o que ficou inscrito em monumentos de pedra, mas aquilo que ficou marcado na vida dos outros”. Os All Blacks são um orgulho nacional.

No fim, a cultura dos All Blacks mais do que formar jogadores de rugby, forma pessoas. Os All Blacks deixem a camiseta em melhor situação do que a receberam. Os jogadores saem do time melhores pessoas do que quando entraram. Esta deveria ser a motivação de um empreendedor em sua jornada em uma empresa: para ele mesmo, para o seu time, para os clientes e para a comunidade.

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4 comentários

  1. Gostei bastante deste post. Nunca tinha parado para pensar na importância dos rituais. Eles sempre me pareceram “bobos”. Os rituais das religiões, principalmente, mas também os patrióticos. Mas eles são uma estratégia eficiente de “envolver’ as pessoas emocionalmente, né?

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