Como a Mente Funciona

Steven Pinker

Até aqui vimos que a mente humana pode ser conflituosa ou estar em sintonia. Que tudo depende de como dominamos os nossos impulsos automáticos e tomamos conta da nossa vida e da nossa história. Livros como o “Skin in the Game”, de Taleb, fazem a gente questionar as premissas, desperta alertas de propósito. O livro “Como a Mente Funciona”, do psicólogo de Harvard, Steven Pinker, tem a pretensão de ser uma espécie de manual para nosso motor de tomada de decisões. Segundo ele, nossa mente é “um sistema de órgãos de computação que a seleção natural projetou para resolver problemas enfrentados por nossos ancestrais evolutivos em sua vida de coletores de alimentos”.

Como sistema de órgãos e de processamento de informações, a mente trabalharia através de mecanismos com funcionamentos especializados, que executam funções específicas, e que poderiam combinar-se (conectar-se) em módulos. Por exemplo, nosso sistema de visão. São vários mecanismos em camadas, um especializado para identificar as cores, outro para os formatos das coisas a nossa volta, outro relacionado à localização, outro para como ele se move e assim sucessivamente. Tudo para montar as coisas que vemos a cada instante, em uma experiência visual unificada.

Estes vários órgãos mentais, são mecanismos especializados em processar informações, quando por exemplo, conversamos com alguém e podemos entender e dar significado aos sons que saem de suas bocas e, ao mesmo tempo, passar nossas mensagens, ou informações.

Processamos informações para resolver problemas de sobrevivência. Não somente sobreviver como indivíduos, mas sobreviver como espécie. Nossa mente foi programada para sobreviver e se reproduzir. Nossos órgãos mentais, portanto, “devem seu design básico aos nossos programas genéticos”, à teoria de Seleção Natural, descrita por Darwin.

Ele propõe o que seria uma estrutura universal da mente, que estaria instalada em todos os seres humanos. Começando pela Inteligência. Esta seria nossa “capacidade de atingir objetivos diante de obstáculos, por meio de decisões baseadas em regras racionais”. Assim como Taleb, Dalio, Pinker também recorre à teoria dos pais da Inteligência Artifical, Newel e Simon (do General Problem Solving).

Para eles, segundo Pinker, a Inteligência seria:

  • Especificar um objetivo
    • Avaliar a situação vigente e saber em que ela difere do objetivo
    • Pôr em prática uma série de operações para reduzir esta diferença

Sendo que no nosso set de informações teríamos:

  1. CRENçAS: inscrições na memoria
  2. DESEJOS: inscrições de objetivos
  3. PENSAR: computação
  4. PERCEPçõES: inscrições acessadas por sensores
  5. TENTAR: executar operações acionadas por um objetivo

Todas estas relações lógicas e interconectadas entre os diversos símbolos (crenças e desejos) podem ser chamadas de representações mentais.

Portanto, o grande objetivo de sua Teoria Computacional da Mente seria “descobrir a forma das representações mentais (inscrições de símbolos usados pela mente) e os processos (ou daemons) que as acessam”

Utiliza diversos capítulos para descrever nossas principais Representações Mentais:

  1. Imagem Visual
  2. Representação Fonológica
  3. Representação Gramatical
  4. Mentalês: nosso conhecimento conceitual, que permite o tráfego de informações entre os módulos mentais (redes neurais)

O tráfego destas informações se dá em Redes Neurais, auto-associativas. Isso significa que elas têm capacidades de acessar alguns elementos a partir de outros e permitem diferentes atalhos dentro da rede:

  1. Memória Reconstrutiva: a presença de um elemento gera automaticamente a correlação de outros elementos similares. AIPO – COR VERDE – PRESENCA de FOLHAS
  2. Degradação Suave: podemos resolver problemas, mesmo com alguns elementos faltantes ou incorretos. NEVOLVER ou HELF
  3. Satisfação de Restrição: coerência lógica, senso comum, inibição (restrição) do que não é logico, que não combina com o conjunto (ATIVACAO – DESATIVACAO de conjuntos)
  4. Generalizações Automáticas: se dois objetivos são semelhantes em alguns aspectos, provavelmente serão semelhantes em outros
  5. Aprendem com o Exemplo: mecanismo de aprendizagem que compara o OUTPUT atual da rede (no início aleatório) com o OUTPUT correto.

Parte destes conceitos estariam presentes, por exemplo, nas 2 Leis do Pensamento, de filósofos britânicos como Locke, Hume, Berkeley, Huxley e J.S. Mill:

  1. Contiguidade: ideias frequentemente vivenciadas juntas acabam associando-se na mente
  2. Semelhança: considerando-se duas ideias semelhantes, tudo o que for associado a primeira, acaba automaticamente associado à segunda

Estes mecanismos permitem ao cérebro processar informações em uma velocidade ainda impossível para máquinas de inteligência artificial. Pinker não deixa de nos lembrar que (ainda) temos limitações físicas para o acesso às informações. Como qualquer outro computador, nosso cérebro precisa de ESPACO (hardware) para armazenar e acessar as informações, precisa processá-las em um TEMPO determinado (“resolver um problema em 100 anos é o mesmo que não resolver nada”) e demandará uma determinada quantidade de ENERGIA.

Sua abordagem computacional não me deixa a menor dúvidas de que devemos aumentar o quanto seja possível nosso repertório de conhecimentos, vivências e informações, com o objetivo de “expandir os padrões de conexão entre os neurônios” e, consequentemente, otimizar e aperfeiçoar a nossa tomada de decisões. Já tínhamos visto algo nesta mesma linha com as pesquisas de Miller e seu Mágico número 7, com os Modelos Mentais de Shane Parrish ou ainda com os atalhos cognitivos dos empreendedores.

“Um cérebro é um instrumento de precisão que permite a uma criatura usar informações para resolver os problemas apresentados por seu estilo de vida”.

Gosto desta definição de cérebro. Principalmente, porque inclui nela a resolução de problemas e nosso estilo de vida. O vincula automaticamente a nosso ambiente e ao tipo de coisas a que nos dedicamos (os tipos de problemas que nos propomos a resolver). Implicitamente, agrega sua neuroplasticidade e a flexibilidade, que repassamos com Eagleman.

Muito interessante também sua abordagem a respeito da cultura: “um estilo de vida explorador de informações ajusta-se bem à vida em grupo e a reunião de especialidades, ou seja, à cultura”. Melodias, ideias e historias disseminam-se de cérebro para cérebro através da cultura e da vida em sociedade. Incorporamos informações e a consideramos verdades absolutas, sem nem questionar as origens delas. “Em todas as culturas, as pessoas seguem longas cadeias de raciocínio construídas com elos cuja verdade eles não observaram diretamente”. Realmente, quanto das verdades que temos incorporadas não foram herdadas? Nunca nem as questionamos. Nem para o bem, nem para o mal.

Resumidamente, temos nas mãos (na verdade, na nossa cabeça) uma máquina de tomada de decisões. Já vimos que assim como podemos configurá-la para jogar tênis e dançar, não tenho dúvidas de que podemos programá-la para empreender. Segundo esta abordagem de Pinker, tendo clareza do problema a resolver, com o set de informações e o ambiente adequados, todos deveriam estar aptos a empreender com sucesso.

Essa discussão não é nova e já foi abordada, por exemplo, por Gartner (o da Universidade de Washington, não a consultoria de tecnologia) em seu trabalho de 1989. Segundo ele, empreender seria uma atividade como outra qualquer e requereria somente horas de treinamento e esforço para a formação de empreendedores. Se fosse tão simples, e considerando o impacto transformador e gerador de riqueza que o empreendedorismo tem, não seriam tão poucos os que se arriscariam (entre 5% e 15%, dependendo da sociedade) e o nível de falhas não seria tão alto (perto de 70%, também dependendo da sociedade).

Então tem algo a mais aí. O set de informações (ou repertorio) – e mesmo o ambiente – não resolvem o problema sozinhos. Pinker mostra que são importantes, relevantes e quanto mais estiverem presentes, melhor. Mas o domínio da máquina (inteligência emocional, autoconsciência, como você quiser chamar) e a forma como processamos a informação não são iguais para todo mundo (*a abordagem emocional de Pinker também é computacional na medida que a associa com a seleção natural e nossos instintos de sobrevivência social).

Para entender o empreendedorismo e o potencial do cérebro empreendedor, nunca poderemos ficar somente com a parte que todos os seres humanos compartilhamos. Necessitaremos entrar na parte relevante da história e trajetória de cada indivíduo, aquela parte que não compartilhamos com ninguém, nossa individualidade.

O mix entre: 1) a estrutura psicológico-cognitiva (personalidade, inteligência emocional e habilidade mental); 2) capital humano especializado (conhecimento técnico especializado e experiência); 3) capital social (relações) e 4) ambiente (estímulos disponíveis) são a base para uma capacidade de execução diferenciada para o empreendedorismo. Mensurar de forma adequada e precisa este mix (Score Empreendedor) tem sido o objetivo da minha pesquisa até aqui.

Sigo investigando…

“Um ser humano é simultaneamente uma máquina e um agente livre senciente (def: capaz de sentir ou perceber através dos sentidos; que possui ou consegue receber impressões ou sensações), dependendo do objetivo da discussão”

A covardia, no que se distingue do pânico, quase sempre é simplesmente uma incapacidade para suspender o funcionamento da imaginação” citando Ernest Hemingway, para argumentar que as imagens impulsionam as emoções, tanto quanto o intelecto.

“O livro da natureza está escrito na linguagem da matemática; sem a ajuda desta, é impossível compreender uma só palavra dele”. Galileu Galilei.

“As emoções são adaptações, módulos de software bem projetados que atuam em harmonia com o intelecto e são indispensáveis ao funcionamento de toda a mente… O problema… são terem sido projetadas para propagar cópias dos genes que a construíram em vez de promover a felicidade, sabedoria e valores morais”

“O software das emoções poderia estar tão profundamente gravado no cérebro que os organismos estariam condenados a sentir de maneira igual a seus ancestrais? As evidencias indicam que não; as emoções são fáceis de reprogramar”

“Inteligência é o empenho para atingir objetivos em face de obstáculos”

“Os objetivos instalados no Homo Sapiens, essa espécie social resolvedora de problemas, não são apenas alimentação, luta, fuga e comportamento sexual. No topo da lista constam entender o meio e assegurar a cooperação de outros”. Como brilhantemente nos mostrou Alfred Adler.

“Somos mais felizes quando estamos saudáveis, bem alimentados, confortáveis, seguros, prósperos e somos instruídos, respeitados, não celibatários e amados”

“Temos aqui a segunda tragédia de felicidade: as pessoas adaptam-se às suas circunstancias, boas ou más, do mesmo modo que seus olhos adaptam-se ao sol ou à escuridão”

“A tragédia da felicidade tem um terceiro ato. Existem duas vezes mais emoções negativas (medo, tristeza, ansiedade, etc) do que positivas, e as perdas são sentidas mais intensamente do que ganhos equivalentes”, como dizia Jimmy Connors: “Detesto perder mais do que gosto de ganhar”.

“A capacidade de postergar uma recompensa é chamada de autocontrole ou adiamento de gratificação. Os cientistas sociais com frequência a consideram um sinal de inteligência, de capacidade de antever o futuro e fazer planos nessa previsão. Mas descontar o futuro, como dizem os economistas, é parte da lógica da escolha para qualquer agente que vive mais que um instante. Preferir a recompensa rápida à gratificação distante muitas vezes é a estratégia racional.” Nenhum dos dois está certo e os dois tem razão, na minha opinião. Tudo depende das circunstâncias…

“…pessoas ajudando parentes equivale a genes ajudando a si mesmos”.

“Nenhuma sociedade pode ser simultaneamente justa, livre e equitativa. Se for justa, as pessoas que trabalharem mais acumularão mais. Se for livre, as pessoas darão sua riqueza a seus filhos. Mas neste caso ela não pode ser equitativa, pois algumas pessoas herdarão riqueza que não trabalharam para ganhar. ”  Tradeoff primeiramente exposta por Platão, em A República.

“As personalidades diferem pelo menos em cinco modos: se uma pessoa é sociável ou retraída (extroversão-introversão), se vive preocupada ou é calma e satisfeita consigo mesmo (neuroticismo-estabilidade), se é cortês e confiada ou rude e desconfiada (concordância-antagonismo), se é cuidadosa ou descuidada (consciência-desnorteamento) e se é ousada ou acomodada (flexibilidade-inflexibilidade) … Boa parte da variação na personalidade – cerca de 50% – tem causas genéticas… ser criado em um lar e não em outro responde, no máximo, por 5% das diferenças de personalidade…ninguém sabe de onde vêm os outros 45%”. Pinker não cita as fontes destes percentuais. Já vi números diferentes, principalmente no que se refere ao peso e importância dos pais até os 7 anos de idades na formação da personalidade.

“Em nossa sociedade, o melhor prognosticador da riqueza de um homem é a aparência de sua esposa, e o melhor prognosticador da aparência de uma mulher é a riqueza de seu marido” declaração no mínimo polêmica de Pinker, argumentando com fatos históricos sobre as preferências de homens e mulheres no momento de encontrar parceiros…

“As religiões, como as outras culturas, produziram arte, filosofias e leis grandiosas, mas seus costumes, como os de outras culturas, muitas vezes servem aos interesses que as promulgam”.

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