Fator Sorte
Max Gunther
Precisamos de sorte para ter sucesso? Para ser feliz? Ninguém em sã consciência responderá de forma negativa. Ter sorte na vida é um desejo de qualquer ser humano. Ela pode ser medida em dinheiro, em amigos, em relações, em realizações, em colheitas, em quantidade de petróleo, em oportunidades.
Mas, tem gente que tem mais sorte do que outras. Isto também é inegável. Qualquer um conhece alguém que nasceu iluminado, com “a bunda para a lua”, como dizia minha madrinha Cleby Nereida. Que tudo o que faz, dá certo. E também certamente existe gente azarada.
Max Gunther nasceu filho de banqueiro e ficou conhecido no mundo financeiro quando publicou “Os Axiomas de Zurique (1985)”, uma lista de conselhos dos banqueiros suíços, como o seu pai, para orientar investimentos. Neste livro, o “Fator Sorte”, publicado quase 10 anos antes do best seller, em 1977, ele foi entender o que faz com que umas pessoas sejam mais sortudas do que outras. Para responder a esta pergunta falou com apostadores e gestores de casino, com operadores de Wall Street, com astrólogos, paranormais, ganhadores de loteria, gente normal e corrente e dezenas de psicólogos e psiquiatras.
“Sorte: eventos que influenciam nossas vidas e que, aparentemente, estão fora de nosso controle”.
Chegou a uma lista simples de cinco comportamentos e atitudes que, como um imã, atraem a sorte. Eles os chamou de “Ajuste da Sorte”. Muitos deles, vimos passar pelo blog:
- Rede de Relações: ou teia de aranha, como chama o autor. Quanto mais gente você conhece e interage no seu dia a dia, maior a probabilidade de que as pessoas lembrem de você quando precisem de alguma ajuda (pode ser até o seu produto e um cliente em potencial). O autor lembra ainda que as pessoas normalmente têm uma propensão a querer ajudar as outras. Quanto mais gente você conhecer, maior a probabilidade de que alguém te dê uma mão quando você precisar (e vice e versa). As pessoas sortudas, costumam se deparar com muitas oportunidades via sua rede de contatos, como vimos nas histórias de Jack Ma, Madame Walker, José Gallo, Caito Maia e talvez nas de todos os empreendedores que passaram por aqui.
- Intuição: em um primeiro momento pode parecer estranho que o filho de um banqueiro (normalmente racional ao extremo), coloque a intuição na sua lista de ajustes da sorte. Mas, o enfoque que Max Gunther dá a intuição é absolutamente pragmático, comum aos pensadores racionais. Sabe que nossa capacidade de armazenar e processar informação de forma inconsciente é muito maior do que da forma consciente. Os sortudos usam este fato para tomar melhores decisões. Sabem que se a intuição estiver respaldada por muito conhecimento acumulado e muita experiência, a decisão tende a ser mais precisa. É fundamental estar atento às mensagens de sua intuição (ou de terceiros) para saber que background (experiências, conhecimentos) está por trás delas. Brené Brown e Adan Grant já tinham chegado a mesma conclusão. Gunther alerta que para que a intuição seja eficaz, é importante entender a “base de dados” que está por trás dela e não confundir palpite com desejo.
“Uma intuição é uma conclusão que se baseia em dados perfeitamente reais – em fatos objetivos que foram observados, armazenados e processados em sua mente. Os fatos nos quais se baseiam a intuição, no entanto, não são conhecidos. São armazenados e processados em algum nível de consciência apenas abaixo ou subjacente ao nível consciente. É por isso que um palpite vem com essa peculiar sensação de certeza de alguma coisa, sem saber bem porquê. ”
- Coragem: “Audentes Fortuna Juvat”, a fortuna favorece os audazes. O conceito é muito similar ao que vimos no livro “A Sorte Segue a Coragem”, de Mario Sergio Cortella. As pessoas têm que estar preparadas para agarrar as oportunidades quando elas surgem. Isso exige um nível de atenção aos golpes da sorte (“estar sempre a postos para identificar oportunidades de sorte”), mas principalmente, audácia para não deixar com que elas passem. Como já haviam alertado Grant e Sherwood (que estudou os sobreviventes), e o próprio Cortella, não podemos confundir ousadia (ou coragem) com precipitação (ou impulsividade). A coragem tem que ser pensada, racionalizada, meditada, reflexionada e preparada. Mas cuidado para não ficar paralisado esperando ter todas as informações disponíveis para tomar a decisão. Ela sempre implicará doses de incerteza.
- Efeito Catraca: este elemento é um importante contraponto ao item anterior. Muitas vezes, mesmo depois de refletir e ter coragem para ir adiante em uma decisão, ela pode não dar certo. É importante saber identificar os momentos de simplesmente desistir de uma ideia ou projeto. Acertar o timing desta decisão (de voltar atrás) é tão importante quanto acertar o momento certo de agir. Para algumas pessoas não é tão fácil admitir que estavam erradas e para outras é muito difícil admitir abandonar um investimento.
- Pessimismo: temos defendido o otimismo como um dos componentes mais importantes para o empreendedorismo. Mas, já vimos também que, se vier em doses muito elevadas, ele traz consigo muitos vieses que atrapalham a tomada de decisão racional. Gunther resgata um conceito similar ao Pessimismo Defensivo, de Grant. Ele é um fator muito importante para as pessoas mais sortudas. Faz com que elas antecipem respostas ao máximo de eventos negativos que, invariavelmente, irão acontecer. Recorre as Leis de Murphy (“se algo pode dar errado, dará”) e Mitchel (“A vida escorrega das nossas mãos. Se você acha que está no comando, está enganado”) para defender seu raciocínio. De forma resumida sugere: “Nunca entre em uma situação sem saber o que fazer se algo der errado”.
“Pessoas de sorte, de forma mais acentuada do que aquelas que não a possuem, estão cientes de que eventos imprevistos e incontroláveis podem acontecer em suas vidas a qualquer momento. Ninguém tem total controle sobre sua vida. As pessoas de sorte são aquelas capazes de se adaptar a esse ambiente de incertezas. Estão prontas para as oportunidades que surgem e se protegem contra as adversidades”.
A primeira edição brasileira deste livro foi publicada 36 anos depois da edição original. O tema continua bastante contemporâneo e seguirá nas mentes das pessoas ainda por muito tempo. Por sorte, já incorporamos alguns conceitos dele para seguir a jornada…
Aquelas passagens que reforçam e ajudam a explicar os conceitos:
“Acredito que a boa sorte chega para as pessoas que estão preparadas para ela e que a usarão para ajudar outras pessoas”
“… a sorte é o insulto supremo à razão humana… A sorte está sempre criando o caos”
“Ele era um banqueiro suíço, um homem com fortes raízes na cultura industrial pragmática dos Estados Unidos e da Europa Ocidental. Se não conseguisse ver uma causa em ação para produzir determinado efeito – se ele não enxergasse como os dois elementos estavam ligados em termos de leis físicas conhecidas – meu pai duvidava da existência de qualquer tipo de ligação”.
“… fazer previsões sobre o futuro de alguém e basear estas previsões unicamente nos fatores de personalidade observados no presente representa não levar em conta o que Kirk Douglas chama de fator X – a sorte”.
“A teoria da aleatoriedade sustenta que as leis da probabilidade não são assim tão certinhas. Existem duas leis fundamentais que devemos ter em mente. A primeira diz que: qualquer coisa pode acontecer; a segunda diz que: se tem chance de acontecer, vai acontecer. ”
“As pessoas de sorte são um grupo dotado dessa capacidade de fazer escolhas diante de dados inadequados. ”
“Ao criar uma rede de contatos, uma teia com muitos fios, tinha aumentado as chances estatísticas de que algo por fim acontecesse. ”
“…as pessoas de sorte são um grupo que não só tem jeito, mas o habito de iniciar contatos amigáveis com frequência”.
“Tom J. Watson, fundador da IBM e provavelmente um dos vendedores mais brilhantes da história do planeta, costumava passar esta lição aos jovens recrutas: “Se você não gostar genuinamente do seu cliente, são grandes as chances de ele não comprar com você. ””
“Se deseja ter boa sorte. O talento intuitivo é um fator útil, se não essencial”
“Os mais bem-sucedidos são aqueles que, entre outras coisas, reúnem impressões e fator concreto para tomar suas decisões”.
“Homens e mulheres que se intitulam azarados muitas vezes são pessoas passivas, elas tendem a deixar a vida passar em vez de usar suas oportunidades de maneira assertiva”.
“… A prospecção de petróleo é como qualquer outro negócio na vida, do casamento à compra de um carro. Sempre existe um elemento de sorte envolvido, e você deve estar disposto a viver com ele. Se insistir em ter certeza, nunca será capaz de tomar qualquer decisão. Ficará paralisado”.
“Quando tiver feito todo o dever de casa, quando tiver coletado todos os fatos essenciais da situação e quando ainda não souber qual rumo tomar porque os fatos disponíveis não são suficientes, você pode recorrer à superstição. ”

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