Silvio Santos: a Biografia
Marcia Batista e Anna Medeiros
Silvio Santos nasceu Senor Abravanel, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, em 1930. Sua história de vida parece saída de um conto de ficção. Filho de imigrantes judeus, com 14 anos Senor teve que abandonar temporariamente um curso técnico de contabilidade para ajudar a sustentar família. Seu primeiro trabalho foi como camelô, vendendo canetas e carteiras de plástico para títulos eleitorais. Com os camelôs, aprendeu o poder que tem o carisma para encantar os clientes e, consequentemente, vender mais. Fazia shows de mágica para atrair e entreter os transeuntes, enquanto vendia as canetas. Um diretor de fiscalização dos ambulantes percebeu seu talento e a potência de sua voz e lhe indicou um concurso de locução de rádio. Começava, oficialmente sua carreira no show bussiness.
A esta altura, Senor já era Silvio Santos. Mesmo com um emprego na rádio Guanabara, ele ainda teve ímpeto empreendedor para começar um negócio na balsa que ia do Rio a Niterói. Começou com altos falantes com músicas e anúncios, agregou venda de bebidas e acabou montando um bar a bordo. Foi levando a vida no rádio e depois na televisão, com outros negócios paralelos. Organizou carreatas com um circo por cidades do interior do Brasil, no que ficou conhecido com o nome sugestivo de as “Caravanas do Peru que fala”. Mais tarde reestruturou o Baú da Felicidade, montou uma empresa de capitalização (a Tele Sena), uma produtora, concessionárias de veículos, um banco e finalmente uma rede de televisão. O caminho até o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão) não foi trivial e a trajetória para conseguir as concessões está bem detalhada no livro. Sua fortuna está entre as maiores do Brasil.
Silvio tinha tino empreendedor, mas sua paixão era o entretenimento. Mesmo milionário, nunca deixou de fazer o que mais gosta: apresentar seu programa de domingo. Tem uma identidade natural com o seu público e realmente se diverte com o que faz. Esta proximidade com as pessoas aguçava sua intuição para as produções e os programas que teriam maior sucesso e apelo: as novelas mexicanas, programas de auditório, reality shows, programas sensacionalistas e uma infinidade de conteúdo escolhido a dedo para as famílias brasileiras. Todos os seus negócios têm o mesmo público-alvo e giram em torno de seu programa de auditório. O Programa Silvio Santos tem a impressionante marca de 54 anos no ar, um recorde absoluto entre todos os países do mundo. Mais mão na massa que isso, impossível. Segundo o próprio Silvio, “o compromisso com o telespectador é algo sagrado e uma grande responsabilidade”. Customer centricity autêntica e genuína!
Empenho, dedicação e coragem são os ingredientes para encarar uma trajetória como essa. Humildade e carisma completam o perfil do empreendedor Silvio Santos. Sua capacidade de construir equipes fieis e comprometidas é uma outra característica de sua história empresarial. Seu staff mais íntimo é composto por pessoas próximas e que já têm muitos anos ao lado do “patrão”, como se referem ao empresário. Sua vida se confunde com o crescimento da televisão no Brasil. Sem dúvidas, é um de seus principais protagonistas. Silvio diz que “virou dono de televisão porque os donos de televisão fecharam as portas para ele”.
Meu avô costumava me contar uma história que resume a personalidade e a trajetória de Silvio. Um belo dia tocaram a campainha da fábrica de figurinhas do meu avô, na Vila Guilherme. Um judeu chamado Senor se apresentou e pediu a doação de uma geladeira para seu recém iniciado Baú da Felicidade. Não sei bem os termos desta conversa, mas o fato é que meu avô negou o pedido. Senor persistiu em seus objetivos, não desaminou com mais essa negativa e se tornou o Silvio Santos. Meu avô perdeu a oportunidade de ajudar um dos maiores empresários da televisão brasileira, que certamente seria grato em retribuir a ajuda em algum momento no futuro.
Silvio Santos especulou com uma carreira política e quase foi presidente da república. Era favorito nas eleições de 1989 e acabou ficando de fora por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), devidos a problemas burocráticos de sua inscrição eleitoral. É um personagem polêmico, amado pelas classes populares e, talvez por isso, com certa rejeição, principalmente, de parte da classe média intelectual brasileira. Do ponto de vista empresarial, é um self made man com sucesso evidente, amado por seus colaboradores, respeitado por seus concorrentes e idolatrado por seus clientes-telespectadores.
Impossível ficar indiferente a Silvio Santos. Tem quase 90 anos e ainda pode ser visto, religiosamente, nos domingos da TV brasileira.
Aquelas frases marotas que deixam a gente mais próximo do protagonista:
“O SBT não vai deixar de exibir desenhos animados, não. Não me interessa se estou perdendo dinheiro (nas manhas), porque para mim exibir desenhos é uma obrigação para com as crianças. O SBT não está aqui somente para fazer dinheiro, tem outras coisas envolvidas”
“Eu dirijo o meu trabalho. O meu trabalho não me dirige”, no discurso de inauguração do SBT, mandando uma mensagem para a esposa Isis, para que não se preocupara com o volume de trabalho que havia pela frente para cumprir os compromissos de programação prometidos ao governo na concessão.
“Eu não nasci dono de televisão. Eu fui dono de televisão porque os donos de televisão fecharam as portas para mim. Quando se fecha uma porta, Deus abre uma janela. Fui obrigado a ser dono de televisão ao comprar 50% das ações. Eu não nasci dono de televisão, eu nasci animador de programas, continuaria sendo animador de programas se os homens não fossem tão vaidosos, tão poderosos”, de Silvio Santos, que continua com suas práticas religiosas do judaísmo.
“Os intelectuais não me compreendem. Querem que eu toque música clássica. Mas eu não gosto, não adianta insistir. Meus programas são populares e eu me identifico com o povo. Não posso esquecer minhas origens de camelô”


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