Becoming Warren Buffett

Becoming Warren Buffett

Peter W. Kunhardt

Este documentário de 2017 da HBO retrata a trajetória do Oráculo de Omaha, um dos maiores investidores de todos os tempos e um dos homens mais ricos da nossa era, o já lendário Warren Buffett.

Buffett nasceu em 1930, na cidade de Omaha, em Nebraska, nos Estados Unidos, no ano da grande depressão americana, época da quebra da bolsa de Nova York. Seu pai era corretor de valores, estava no olho do furacão e perdeu o emprego com a crise. Foi nos livros do pai que Warren teve o primeiro contato com o mundo das ações de das empresas. Leitor voraz e um apaixonado por números, todas suas brincadeiras da infância envolviam desafios matemáticos. Cedo, começou a tomar gosto pela arte de ganhar dinheiro. Vendia de tudo com sua bicicleta – jornais, doces, refrigerantes e aprendeu o poder que tem os juros compostos. Fez sua primeira declaração de IR com 13 anos de idade.

Seu pai, que mais tarde se tornou deputado do partido republicano, era seu maior exemplo e ídolo. Dizia que não devia se preocupar com o que os outros pensavam: “Saber porque você faz algo já é suficiente, não importa a opinião dos demais”. Dele recebeu seu maior presente, ter confiança em si mesmo.

Da mãe, pouco amorosa, super ambiciosa e brilhante em matemática, aprendeu a ser competitivo. Terminou a faculdade em 3 anos, com muito boas notas. Em seguida, foi fazer um MBA na Columbia Business School. Lá conheceu seu grande mentor, o economista Ben Graham. Com ele internalizou duas lições que nunca mais esqueceu: 1) nunca perda dinheiro e 2) nunca esqueça a primeira regra.

Saiu da faculdade e começou a trabalhar de vendedor de ações, como seu pai. Já estava obsessivo com a arte da acumulação. Sua ambição não era pelas coisas que o dinheiro podia comprar. Ele só queria jogar o jogo das ações e do mercado financeiro. E ganhar, como fazia quando criança.

Neste momento já estava casado. Segundo Buffet, ele teve dois momentos decisivos em sua vida. O primeiro, quando nasceu e o segundo, quando conheceu sua futura esposa, Susan. A segunda parte do documentário – e da vida de Buffet retratada nele – tem a presença quase constante da esposa. Ela mudou a cabeça dele, literalmente. Primeiro, com uma visão muito mais liberal em relação ao mundo. O levava para ver as palestras de Martin Luther King, por exemplo. Estava todo tempo envolvida em ações sociais, tinha como proposito de vida ajudar as outras pessoas. Buffett deixou de ser republicano e passou a apoiar os democratas, contrariando seu pai.

O que Susan não conseguiu mudar foi a obsessão de Warren pelos números e pela acumulação. Um tipo super reservado, que mantinha uma rotina diária de leitura de 5 a 6 horas ininterruptas. Até hoje o homem com uma fortuna de USD 65 bilhões não tem computador, nem celular. Lê os jornais impressos e continua devorando livros. Quando se interessa por um assunto (normalmente uma empresa ou um setor para investir), investiga o tempo a fundo, em todas as fontes possíveis. Além de ler, conversa com muita gente, busca diferentes opiniões até chegar a suas próprias conclusões.

Este rigor e essa disciplina o levaram a comprar muitas ações de empresas, sempre com um foco no longo prazo. Dentre estas compras, estava uma velha empresa têxtil chamada Berkshire Hathaway. Em um raro repente emocional de sua trajetória, cinco dias após a morte de seu pai, fez a compra agressiva do controle da companhia, depois de desentendimentos com os sócios da empresa a respeito do preço da mesma. Pouco depois, fechou a fábrica e transformou a empresa em uma holding de aquisição de participação em outras empresas. Isso é o que é o fundo de Warren Buffett, uma empresa de capital aberto, que investe em outras empresas.

Seu portfolio inclui empresas em uma gama diversificada de setores, países e tamanhos. Tem participações na Coca Cola, na American Express, em bancos como Bank of America e Wells Fargo e até na Apple, é sócio de Jorge Paulo Lehman e cia no Kraft Foods, e tem empresas de seguros, de transportes, de tecnologia, de móveis, jornais, indústrias e assim vai. Sua empresa tem os mesmos 25 funcionários de toda a vida e tem uma gestão tão simples e conservadora que não tem, por exemplo, uma área de RI (Relações com Investidores) e não faz relatórios trimestrais, porque não se importa com as opiniões “curto-prazistas” de Wall Street. A relação com os sócios é feita presencialmente em uma assembleia anual com cerca de 40 mil pessoas, onde Buffett repassa a estratégia da empresa, fala sobre investimentos e tendências do mercado. Seu compromisso é com estas pessoas que apostam suas economias no talento e visão de Buffet.

A trajetória de Buffett é uma trajetória de consistência, regularidade e foco. Desde o começo, dizia a esposa que ia ser o homem mais rico do mundo. Não fazia pelo dinheiro, fazia somente pelo prazer de vencer. Também por influência da esposa, doou em vida, boa parte de sua fortuna. Foram quase USD 36 bilhões em doações para diversas entidades beneficentes, entre elas a Fundação Bill e Melinda Gates, que se tornaram seus grandes amigos.

Warren Buffett ama o que faz e considera que teve muita sorte na vida. Sua grande ambição é ser professor, o que sem dúvida algum tem feito quando resolve investir em algum negócio e interage com os empreendedores e funcionários de grandes empresas. Recomendo o documentário.

Algumas passagens interessantes sobre Buffett:

“O cérebro dele não para, com um coração de ouro” da esposa Susan.

“As correntes do hábito são leves, até que se tornam pesadas demais para serem rompidas”, sobre a importância de estar atento a sua rotina e de vencer os medos que nos impedem de avançar quando precisamos.

“Eu era bom em multiplicar o dinheiro. Fui geneticamente beneficiado com um raciocínio útil em um mercado bem disseminado e dinâmico”

“Se você é emotivo não dará certo no mercado de ações. Se sente algo pelas ações, isso nunca será reciproco”

“Se o mundo conseguiu o que conseguiu só com metade de seu potencial, imagine o que faria com ele completo” sobre a sociedade machista que por muito tempo excluiu as mulheres das decisões e deixou metade de nosso talento “fora da festa”.

“Ele sempre foi um gênio, e os gênios são naturalmente solitários e isolados” de Susan, sua esposa.

warren_buffet