O Fundador

The Founder

2016, Netflix, John Lee Hancock

Ray Kroc tinha 52 anos, lutava com dificuldade para vender máquinas de milk shake pelas lanchonetes e postos de serviço dos EUA, quando recebeu um pedido inusitado de 6 máquinas para um lugar em San Bernardino, uma pequena cidade da Califórnia. Este filho de imigrantes checos, que já tinha falhado na execução de várias ideias mirabolantes, ficou maluco quando viu a lanchonete inovadora dos irmãos McDonald. Os dois praticamente inventaram o conceito de fast food, com um modelo de produção rápida de hambúrgueres (“Da chapa ao mostrador em 30 segundos”), onde as pessoas comiam sem bandejas ou pratos, com um menu de somente quatro itens (hambúrguer, fritas, refrigerante e milk shake), que retiravam diretamente no caixa. De uma tacada, reduziram drasticamente os custos e aumentaram a satisfação dos clientes.

Ray percebeu que o modelo funcionaria em todas as cidades americanas e ficou absolutamente obcecado com o negócio. Com muito entusiasmo e paixão, convenceu os irmãos em ser o responsável por transformar o restaurante em uma franquia e espalhá-la pelo país. O resto é história e os Arcos Dourados transformaram-se na maior rede de franquias do planeta.

A produção de 2106 do Netflix está muito bem feita. Conta com o talento de Michael Keaton, que já foi Batman, Beetlejuice, BirdMan e se multiplicou para namorar a linda Andie MacDowell. Ele interpreta um Ray Kroc, fã dos LPs do Dr. Clarence Floyd Nelson e que acreditava que “nada pode tirar o poder das pessoas persistentes”. O filme, e a história do Mc Donalds, gera espaço para muitas reflexões sobre o muito das empresas.

Tipos de Empreendedor: assim como já tínhamos visto na história da Adidas, também vemos o contraponto entre dois tipos bem diferentes de empreendedores. De um lado, Dick MC Donald, com um perfil técnico, metódico, investigador, focado sobretudo no produto e que, com seu poder de observação, transformou o negócio de fast-food com uma série de inovações. Assim como Adolf Dassler queira fazer o melhor calcado esportivo possível, a ambição de Dick era produzir o melhor hambúrguer do mundo. Já Ray Kroc sonhava mais alto. Queria ver os Arcos Dourados lado a lado com as igrejas e presentes em todas as cidades americanas. Queria que a experiência do hambúrguer fosse provada em todos os lares americanos. Assim definia a sua visão de mundo “Ambição: é disso que se trata a vida. Tem gente com medo de arriscar-se e isto é triste”.

Equipe: depois de hipotecar sua casa para montar a primeira franquia, começou a distribui-la para amigos ricos que não queiram ficar de fora de uma boa oportunidade de negócios. As primeiras franquias de terceiros foram um verdadeiro desastre. Vendiam de frango frito a cigarros e bebidas. Ray teve um insight quando viu um judeu vendendo a bíblia de porta em porta para sobreviver. Percebeu que esse era o perfil de franqueados que precisava. Gente trabalhadora, lutadora, para os quais uma franquia do McDonald fosse a oportunidade da vida. Recrutou este perfil em todos os lugares imagináveis e a partir daí começou a crescer de forma consistente e com qualidade.

Modelo de Negócios: mesmo com a rede crescendo de forma exponencial, Ray esteve a ponto de quebrar. Ganhar 1% de comissão sobre e venda de hambúrgueres de 15 centavos não dava nem para pagar a hipoteca da casa. Desesperado, foi salvo pelo financista Harry Sommeborn. O consultor fez Ray entender que tinha uma grande oportunidade nas mãos, mas a estava explorando de forma equivocada. “Você não está no negócio de hambúrgueres, está no negócio imobiliário” A partir daí, montaram uma outra empresa, começaram a comprar as terras e arrendá-las aos franqueados, como parte do contrato de franquia. Em pouco tempo, tinham um império com caixa e muito patrimônio.

Ética nos negócios: Ética tem a ver com escolhas, com cultura, com valores. Isto é independente de sua personalidade. Com a jogada imobiliária, Ray tirou do negócio os irmãos Mcdonald. Começou a quebrar cláusulas importantes do contrato original e forçou a saída dos sócios. Pagou usd, 2,7 milhões pelo modelo de franquia e pelo nome Mcdonalds. Apalavrou um acordo de 1% dos lucros anuais que nunca cumpriu. Ray tinha uma ética polêmica e distribuía frases de efeito ao longo de sua trajetória: “Negócio é guerra. É cão come cão. Rato come rato. Quero construir o futuro. Eu quero ganhar” ou uma outra um pouco mais terna: “Quer saber? Os contratos são como corações, eles são feitos para serem quebrados”. No final, Ray se autodenominou fundador do McDonalds e, depois do acordo com os irmãos, reinaugurou a loja número 1 da rede: sua franquia de Chicago.

Devemos ser melhores que isso. Seguimos investigando.