A Arte da Imperfeição: abandone a pessoa que você acha que deve ser e seja você mesmo
Brené Brown
O livro trata de temas não tão comuns no mundo dos negócios, como amor, carinho consigo mesmo, vulnerabilidade e vergonha. Olhando com um pouco mais de cuidado, vamos nos dando conta que estes são temas comuns a todos nós e, portanto, aos empreendedores. Fala de coragem, resiliência e medo de fracassar, assuntos que nos interessam muito, pois estão presentes em todas as iniciativas de construir algo novo.
A autora virou um fenômeno moderno, best seller internacional, TED talker das mais baixadas, milhões de seguidores nas redes sociais, entrevistada por todos os grandes programas de televisão que ainda tem audiência. Sua grande descoberta foi o papel que a vergonha exerce para aqueles que tem a coragem de viver suas vidas plenamente. Investigando a vida delas em busca de padrões de comportamento, chegou a mesma conclusão que Adan Grant no livro “Originais”: fracassar nos traz menos desgosto na vida do que nem tentar realizar.
Os disparadores – ou orientadores, como ela chama, é que mudam. Alguns mudam somente em nomenclatura, porque o conceito por trás é similar. Um chama de originais, o outro de vida plena. Você precisa ser original para ter uma vida plena. E ter uma vida plena, é ser único, autentico.
Esta autenticidade, que te impulsa a buscar seu próprio caminho, é o mesmo comportamento que vimos no líder do dr. Mario Alonso Puig, ou no empreendedor definido por Ariel Arieta. Para Brené Brown, passa obrigatoriamente por vencer o medo e a vergonha, os momentos, os gatilhos que disparam quando estamos com vergonha. Ela define a vergonha como o medo da desconexão com os demais. “Todos nós lutamos contra a vergonha e o medo de não sermos suficientes”. Ser você mesmo, com todos os defeitos e imperfeições, exige coragem. Tomar as rédeas e o protagonismo da sua própria vida exige coragem. “Coragem parece um sentimento ótimo, mas precisamos falar de como ela exige que nós deixemos de nos importar com o que os outros pensam e, para a maioria de nós, isso é assustador”.
A coragem apresentada no livro tem semelhanças com a coragem preparada, de Mario Sergio Cortela. Ela também é racionalizada, pensada. Para Brown, a coragem deve ser praticada. “Coragem é como uma postura, um hábito, uma virtude: você a consegue através de atos corajosos. Assim como você aprende a nadar, nadando, você aprende a coragem, praticando-a”. A pessoa corajosa é aquela que fala o que pensa, abre o coração e arrisca sua vulnerabilidade. Pessoa corajosa pratica autenticidade. Ao contrário do que pressupõe o senso comum, coragem não é um ato de heroísmo. Brown define uma coragem comum: atitudes do dia a dia de exposição de vulnerabilidade. Dizer não sei ou não entendi, por exemplo. Fazer as coisas sem garantia de que darão certo. Isto é coragem, isso é vencer nossas vulnerabilidades, nossos medos de desconexão.
“Amar e aceitar a nós mesmos são os atos definitivos da coragem”. Então, para enfrentar este desafio de uma vida plena, com coragem, seria necessário criar certa resiliência a vergonha. No desenvolvimento que a autora faz de seus 10 orientadores para uma vida plena, eu destaco três deles que trazem relações que, pelo menos para mim, não estavam tão evidentes quanto estão agora.
A primeira relaciona autenticidade e autocompaixão. Para criar resistência às opiniões alheias, você tem que se conhecer, gostar de você mesmo. Nem sempre é fácil. As pessoas tendem a trocar autenticidade por segurança, procurando estar alinhadas ao que os outros esperam delas em cada situação. Esta busca por agradar as expectativas dos demais, pouco a pouco, mina o nosso ser individual, nos deixa pasteurizados, amorfos, mortos. Segundo ela, as pessoas deveriam nascer com um aviso: “se você trocar autenticidade por segurança pode sentir os seguintes sintomas: nervosismo, depressão, desordens alimentares, vícios, raiva, culpa, ressentimento e tristeza inexplicável”. Autocompaixão seria um dos antídotos para garantir autenticidade e possui três elementos: bondade (ser compreensivo consigo mesmo), humanidade comum (reconhecer que sofrimento e sentimento de insuficiência pessoal são humanos, todos passam por isso) e consciência plena (relacionado ao equilíbrio emocional, estar atento aos seus sentimentos e não deixar nem que eles sejam exagerados, nem sufocados). Lendo este parágrafo, penso automaticamente na dimensão de Dependência por Recompensa, do Modelo de Personalidade de Cloninguer. Empreendedores tem pontuações baixas nesta dimensão, o que indica maior autenticidade.
A segunda “surpresa” relaciona resiliência com esperança e espiritualidade. A autora define esperança como “a combinação entre a capacidade de estabelecer objetivos e a tenacidade e a perseverança para ir atrás deles e a crença em suas habilidades”. O cultivo da esperança seria uma das bases para a espiritualidade, uma crença profunda e compartilhada de que não estamos sozinhos, estamos conectados a uma força maior. Esta prática da espiritualidade nos traz um sentimento de significado, compreensão e objetivo, que dificulta com que desistamos das coisas. Curiosamente, a espiritualidade é um elemento com presença destacada na dimensão de autotranscedência de Cloniguer, mas nenhuma das pesquisas que analisamos até agora ressaltam empreendedores com pontuações sobressalentes (para cima ou para baixo) nesta dimensão. Até este momento da minha pesquisa, resiliência estava bastante relacionada com otimismo e o estilo explanatório, que vimos no livro de Martin Seligman. Podíamos facilmente relacionar otimismo com esperança, mas não com espiritualidade. Pensando melhor, faz todo o sentido: pessoas com espiritualidade são mais otimistas e, como consequência, mais resilientes (posteriormente, a fè – ou espiritualidade aparece em uma das habilidades utilizadas pelos sobreviventes analisados pelo jornalista Ben Sherwood).
O terceiro dos orientadores que me chamou a atenção foi a intuição. Adan Grant, novamente no seu Originais, já tinha destacado as armadilhas da intuição na tomada de decisão de novos investimentos e como a experiência prévia “viesava” as nossas escolhas. Segundo ele, e baseado nas pesquisas do Nobel Daniel Kahneman, “as intuições só são confiáveis quando as pessoas acumulam experiência fazendo julgamentos em um ambiente previsível”. Em todas as outras situações (ou na maioria delas), a intuição deve ser no mínimo checada (o famigerado doble-check). Brené Brown vai pelo mesmo caminho, e reforça a necessidade de prestar atenção em como sua intuição opera antes de tomar as decisões. “O cérebro observa algo, pesquisa seus arquivos e combina a observação com memórias, conhecimentos e experiências existentes. Quando ele acerta uma série de combinações, nós temos o instinto sobre aquilo que foi observado”. E quando ele não tem combinações suficientes, você fica com aquela necessidade de pedir uma segunda opinião, de obter mais informações. A grande mensagem aqui é ficar atento a como a sua intuição se comporta.
Vale a pena passar pela lista dos 10 orientadores para a vida plena que estão detalhados no livro: 1.Autenticidade, 2. Autocompaixão (o contrário do perfeccionismo), 3. Resiliência, 4. Gratidão e Alegria, 5. Intuição e Fé, 6. Criatividade, 7. Brincar e Descansar, 8. Calma e Tranquilidade, 9. Trabalho significativo (e o fim da insegurança) e 10. Riso, Música e Dança.
Na minha opinião, empreender tem total relação com uma vida plena. Viver plenamente e empreender partem da coragem de superar o medo de realizar coisas sem garantia de que darão certo, de ser autêntico, genuíno e vulnerável. Somente pelo gosto de fazer.
Veja o TED Talk de Brené sobre o poder da Vulnerabilidade:

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