Pad-Man
R. Balki – Netflix
As histórias de empreendedores parecem estar na moda nas plataformas de streaming (e em todo o lado). Que sorte que temos! Com isso vem a oportunidade de conhecer histórias reais, de pessoas extraordinárias e não tão conhecidas, como Sarah Breedlove e Bernard Garret, além de gente de grande calibre e impacto no mundo, como Buffet e Gates.
Desta vez, o algoritmo da plataforma me recomendou Pad-Man, uma produção indiana, bem ao estilo Bollywood (com danças, romances e um humor ingênuo, segundo a Tati). Conta a estória de Lakshmikant “Laxmi” Chauha, interpretado por Akshay Kumar. O personagem está inspirado na vida real de Arunachalam Muruganantham. Um faz-tudo de uma oficina mecânica de uma cidade rural da Índia, com um dom natural por consertar coisas e um amor incondicional por sua esposa.
Logo que casou, se surpreendeu com o processo que impactava a sua esposa todos os meses, quando entrava em período menstrual. Percebeu que, apesar de todo o entorno e rituais em relação às mulheres em seus períodos lunares, elas não estavam bem cuidadas. Não tinham acesso a absorventes femininos. Usavam panos e até jornal, para conter o sangue menstrual.
Era uma questão cultural e econômica também. “Se compro isso para mim e para minhas irmãs, vamos ter que cortar o orçamento do leite”. Querendo impressionar a mulher recém esposada, foi na farmácia e comprou um absorvente importado. No estabelecimento comercial, era como se estivesse comprando algo proibido ou contrabandeado, dado o cuidado do farmacêutico com o pedido. Antes de entregar, ele abriu o pacote para ver o que tinha dentro. Como pode algo tão simples, com um pouco de algodão, ser tão caro?
Era o insight que precisava. Resolveu inventar o seu próprio modelo de absorvente. As primeiras tentativas foram frustradas, ele sofreu com as tradições indianas tentando convencer a esposa e outras mulheres a usarem o seu produto, mas finalmente conseguiu construir uma máquina com custo de construção baixo, que processava a celulose e fabricava os absorventes de forma mais eficiente que o mesmo produto produzido por empresas multinacionais. Inovação impulsionada pela necessidade.
Mas ele foi um passo além do que uma patente para a máquina. Montou um esquema auto-sustentável em que as mulheres da própria comunidade produziam e vendiam o produto. Abriu mão da patente do produto e disponibilizou o manual de construção da máquina em plataforma aberta na internet. Não só resolveu o problema de saúde das mulheres, como ainda gerou empregos e renda para a própria comunidade.
Sua missão nos últimos anos tem sido fazer com 100% das mulheres indianas usem medidas mais seguras em seu dia a dia (o índice chegava a menos de 2% quando lançou o produto). Laxmi “colocou um exército de mulheres da Índia rural para competir com as multinacionais”. Atualmente, as máquinas estão instaladas em 23 dos 29 estados indianos, segundo a Wikipedia. Arunachalam foi incluído na lista das 100 pessoas mais influente do mundo da revista Time no ano de 2014.
Um exemplo maiúsculo de empreendedor-social! Um modelo extremamente moderno de capitalismo.
O filme esta bem produzido e conta com estrelas do cinema indiano. Se não tiver com paciência de ver o filme de pouco mais de duas horas, assista ao verdadeiro Arunachalam em um TED Talk de menos de 10 minutos, contando a sua épica estória. Vale a pena! E a mensagem que ele deixa ao final da sua palestra é extraordinária!

