GEM 2019 – Global Entrepreneurship Monitor 2019
Este é o segundo ano em que o relatório do Global Entrepreneurship Monitor aparece no blog. Talvez seja o principal relatório a respeito da atividade empreendedora no mundo. O trabalho tem qualidade e só e possível por causa da dedicação de muita gente que tem o compromisso de levar adiante a pesquisa. Esta tarefa é importante para harmonizar algumas definições e formas de medir o empreendedorismo entre os países. Algumas variáveis ainda são bastante instáveis e têm oscilações grandes de um ano para o outro, o que pode gerar certa desconfiança em relação a qualidade dos números. Ainda prefiro olhar as tendências de mais longo prazo e os indicadores comparativos entre os países. De qualquer forma, a iniciativa é louvável e é a melhor informação disponível sobre a atividade empreendedora que encontrei. Abaixo listo algumas definições que julgo importantes para organizar o conhecimento desta matéria:
- Empreendedorismo: um fenômeno sócio-cultural, definido como “qualquer tentativa de novo empreendimento ou criação de novos negócios, como trabalho autônomo, uma nova organização comercial ou a expansão de um negócio existente, por um indivíduo, uma equipe de indivíduos ou um negócio estabelecido”
- Empreendedor: indivíduo que se dedica ao empreendedorismo
- Fases da Atividade Empreendedora:
- Empreendedor Potencial: indivíduo com o conhecimento e as habilidades suficientes para identificar oportunidades de negócio.
- Total Early-Stage Entrepreneurial Activity (TEA)
- Empreendedor Nascente: envolvido na configuração inicial de um negócio (start-ups)
- Sócio-proprietário ou gestor de um novo negócio: empresas de até 3,5 anos de existência
- Established Businees Owners (EBO): Sócio-proprietário de empresas estabelecidas a mais de 3,5 anos
- Exit Business: momento que o empreendedor deixa o negocio
Para o TEA, o relatório ainda mede elementos do perfil da atividade empreendedora:
-
-
- Atributos Individuais: Idade, Sexo e Motivação
- Setores: Extrativista, Industria e Logística, Consumo, Serviços
- Impacto: Crescimento, Inovação, Foco de Mercado (local ou exterior)
-
Entender como se comporta o empreendedorismo de acordo a suas diferentes fases, combinadas com o perfil da atividade, é relevante para qualificar a atividade empreendedora. Em uma determinada região, ter muita presença de TEA e pouca de EBO, pode significar que poucas empresas prosperam no tempo, por exemplo. Ou, que os empreendedores sejam mais motivados por necessidade do que por oportunidade também pode indicar uma maior precariedade da atividade.
O relatório deste ano traz algumas inovações interessantes. Evoluíram em um indicador de ambiente (NECI – National Entrepreneurship Context Index), que mede as condições oferecidas por cada país para o desenvolvimento da atividade empreendedora. Em uma webnar para apresentar o relatório realizado na semana passada, a professora de Empreendedorismo da Babson College, Donna Kelley, uma das organizadoras do relatório, introduziu um conceito muito interessante relacionada ao ecossistema empreendedor. Segunda ela, algumas pessoas tem o talento natural para enxergar novas oportunidades de negócio, mas nem todas transformam sua visão em ação. Para este segundo passo, elas dependem muito do ambiente em que estão. Abaixo as variáveis que compõem o NECI:
1) Fontes de Financiamento; 2) Políticas Governamentais: suporte e prioridade para empreendedorismo; 3) Políticas Governamentais: impostos e burocracia, 4) Programas Governamentais de apoio ao Empreendedorismo; 5) Educação Empreendedora nas escolas; 6) Educação Empreendedora nas Universidades; 7) Transferência de Pesquisa e Desenvolvimento de Universidades para Empresas; 8) Infraestrutura Legal e Comercial; 9) Dinâmica do Mercado Interno; 10) Barreiras de Entradas e Regulamentação para novos entrantes; 11) Infraestrutura Física e 12) Normas Sociais e Culturais
É o primeiro ano que divulgam o NECI (calculado pela média simples dos 12 atributos analisados). Acredito que o relatório agrega muito valor qualitativo, listando as variáveis mais importantes para a construção de um ecossistema empreendedor. Somente senti falta de um indicador de disponibilidade de mão de obra STEM (Science, Technology, Engineer and Mathematics), que é chave para o empreendedorismo no século XXI, onde qualquer empresa será uma empresa de tecnologia.
O Brasil é um dos países mais empreendedores da amostra: é #2 no indicador de empresas estabelecidas e #4 em TEA. Em um dos ambientes que menos viabiliza a atividade empreendedora (#42 em NECI). Temos muitos empreendedores (42% da população de 18 a 64 anos, segundo o relatório), sendo que 88,4% empreendem como uma maneira para sobreviver (necessidade) e em pequenos negócios voltados ao mercado de consumo (restaurantes, bares, comercio de rua, etc). Ainda temos pouco foco em mercados externos (#45 no ranking), poucos empreendedores que surgem de ambientes corporativos (EEA – Employee Entrepreneurial Activity, somente 0,1%, que atuam predominantemente por oportunidade), as iniciativas são quase que exclusivamente bancadas pelos próprios empreendedores (investimentos patrocinados por terceiros ainda são pouco relevantes) e é pouco concentrado no setor de serviços, onde estão as maiores inovações ligadas a tecnologia. Muita quantidade, pouca qualidade, considerando o potencial impacto que a atividade tem para a sociedade, conforme vemos no gráfico abaixo:

A saída de longo prazo para o Brasil pode estar em melhorar o contexto para o empreendedor. Abaixo, uma abertura do NECI brasileiro nos seus 12 componentes. Nossos maiores gaps estão em educação empreendedora na escola e menos burocracia pública e impostos. Se agregamos a quantidade de STEM disponível, temos um pacote que envolve maior educação e menor presença do estado na economia.

No curto prazo, a urgência do momento tem que estar em proteger este contingente de empreendedores que luta para subsistir e que depende, majoritariamente, do comércio de rua e do trânsito de pessoas pelas cidades.
