Modelos Mentais: a melhor maneira de tomar decisões inteligentes (109 modelos explicados)

Modelos Mentais: a melhor maneira de tomar decisões inteligentes (109 modelos explicados)

Do Blog Farnam Street (https://fs.blog/mental-models/)

O blog Farnmam Street é uma das grandes surpresas que descobri na internet neste período de quarentena. Foi uma indicação de um amigo e estava pendente na minha caixa de entrada desde janeiro. Eles se definem como uma comunidade de conhecimento compartilhado, que aborda temas de autodesenvolvimento, dando dicas que vão de técnicas de leitura (com lista de livros) a aprendizado acelerado, passando por modelos para tomada de decisão. Tem muito conteúdo de qualidade disponível. Segundo eles, em uma tradução livre, “a qualidade do nosso pensamento é proporcional aos modelos que temos em nossa cabeça e o seu uso nas situações do nosso dia a dia”.

O artigo faz um resumo de diversos modelos mentais conhecidos pelo homem, em cada um dos ramos da ciência – física, matemática, biologia, economia, psicologia, engenharia e estratégias militares. Modelos mentais são a forma como encontramos para simplificar a realidade, como priorizamos as coisas e como raciocinamos. No fim, tomamos decisões via nossos modelos mentais – conscientes e/ou inconscientes.

Segundo minha própria definição: “as pessoas empreendedoras têm a capacidade de imaginar uma nova realidade e, mais importante, atuam para transformar o presente rumo a ela, independentemente dos obstáculos que, inexoravelmente, vão enfrentar na sua resolução. Um empreendedor tem a capacidade de resolver problemas em um ambiente volátil, incerto, cheio de complexidades e, quase sempre, ambíguo”.

A forma como imaginam esta realidade e como atuam para transformá-la, passa obrigatoriamente pela forma como toma decisões. Passa por seus modelos mentais.

Eu diria que não somente os empreendedores, mas todos os que tomam decisões no seu dia a dia deveriam conhecer a lista dos 109 modelos listados pelo blog.

Alguns destes modelos são verdades universais e temos pouca ação de escolha sobre eles, outros são como regras e fórmulas que foram desvendadas e que, se estão incorporadas na nossa cabeça, vão nos ajudar muito no momento de tomar uma decisão.

  • General Thinking Concepts: Map, Circle of Competence, First Principles Thinking, Thought Experiment, Second/Order Thinking, Probability Thinking, Inversion, Occam`s Razor e Hanlon`s Razor

Dos 9 itens listados, destaco os 2 que considero mais importantes para os empreendedores:

Círculo de Competência: conhecer as suas competências e limitações é o primeiro grande passo para a liderança e para iniciar uma trajetória empreendedora. Se você se conhece e aplica este conhecimento em um negócio (ou ramo) com qual tenha familiaridade, suas chances de sucesso aumentam muito. São dois exemplos do círculo de competência aplicado no empreendedorismo. O termo ficou famoso no mercado financeiro, porque o conceito faz parte da estratégia de investimentos de Warren Buffet, que só investe nas empresas que ele conhece o modelo de negócios. Para o empreendedor, este modelo mental permite que tome decisões mais assertivas e mais factíveis de serem implementadas.

Experimento Mental: muito utilizado na filosofia e na física, permite criar experimentos ou situações difíceis de serem executados na realidade, somente com o poder do pensamento e da imaginação. Em outras palavras, imaginar o que poderia ocorrer em determinadas circunstâncias teóricas, antecipando os impactos das mesmas. Este exercício pode ser bem útil para os empreendedores testarem suas ideias e suas hipóteses antes de lançá-las ao mercado.

  • Aritmètica (Numeracy): Permutations and Combinations, Algebraic Equivalence, Randomness, Stochastic Process, Compounding, Multiplying by Zero, Churn, Law of Large Numbers, Bell Curve / Normal Distribution, Power Laws, Regression to the Mean e Order of Magnitude

Os conceitos aritméticos ou matemáticos são fundamentais para a gestão de empresas e a construção de planos de negócio. Muitos deles são aprendidos de forma automática. A gente nem pensa neles como modelos, mas são conceitos que já estão incorporados na nossa forma de raciocinar, dependendo do tipo de ambiente em que tivemos contato.  Destaco dois dos modelos para a atividade empreendedora moderna e digital:

Exponencialidade (compounding): coincidentemente (ou não) este é outro conceito muito utilizado por Buffet em seu processo de tomada de decisão. É um termo muito conhecido e aplicado no mercado financeiro, que utiliza os chamados “juros sobre juros” em muitos de seus instrumentos. A maravilha da exponencialidade não se aplica somente em investimentos, mas também em várias inovações proporcionadas pelas novas tecnologias: da memória dos chips de computador, ao uso de aplicativos ou de redes sociais e, até, na disseminação de doenças, como o COVID-19. Se aplica também a ideias e relacionamentos. Conhecer a dinâmica deste fenômeno pode ser muito útil para a atividade empreendedora.

Churn: conceito muito utilizado pelas empresas de seguro, mas também por empresas de varejo, corresponde a quantidade de clientes perdidos em determinado período e que precisam ser repostos. Medir somente a entrada de novos clientes pode ser insuficiente caso o churn seja mais alto.

  • Systems: Scale, Law of Diminishing Returns, Pareto Principle, Feedback Loops, Chaos Dynamics (Butterfly Effect), Preferential Attachment (Cumulative Advantages), Emergence, Irreducibility, Tragedy of the Commons, Greshman`s Law, Algorithms, Fragility – Robustness – Antifragility, Backup Systems / Redundancy, Margin of Safety, Criticality, Networks Effects, Via Negativa – Omission/Removal/avoidance of Harm, The Lindy Effect, Renormalization Group, Spring-loading e Complex Adaptative Systems

Confesso que não conhecia alguns destes sistemas, mas muitos outros são utilizados na tomada de decisão no mundo de negócios. Empresas são sistemas que precisam ser geridos conforme determinadas metodologias – best practices. Entre os conceitos mais básicos utilizados em muitos casos estão os algoritmos e Pareto, mas outros como escala, redundância, margem de segurança, etc são também básicos para o mundo da engenharia.

Algoritmos: são resolvedores de problemas. Você monta um algoritmo para resolver problemas, com ou sem a ajuda de tecnologia. Os algoritmos são a linguagem básica para todos os processos de programação e automatização de tarefas. Você constrói uma determinada regra de cálculo e os computadores a executam.

Pareto: o básico 80/20 que pode ser o primeiro passo de muitas análises de rentabilidade e eficiência. Determina que em uma distribuição, normalmente 20% dos elementos do grupo, explicam 80% dos outputs do mesmo, seja resultado, riqueza, custos, esforços, etc.

  • Physical World: Laws of Thermodynamics, Reciprocity, Velocity, Relativity, Activation Energy, Catalysts, Leverage, Inertia, Alloying, Viscosity.

As organizações sociais e a relação entre seres humanos muitas vezes têm os mesmos princípios da física. Uma de nossas unidades celulares mais básicas é o neurônio, que se rege por leis da eletricidade.  Então, relacionamentos não deixam de ser troca de cargas elétricas entre seres humanos (Será?). Portanto, muitas leis da física também se aplicam a trajetória empreendedora.

Reciprocidade: Se você age de determinada maneira com alguém, a tendência é que ela aja da mesma maneira com você. Tente sair na rua e xingar um desconhecido. Ou ajudar alguém a resolver algum problema. A sua contraparte, não importa quem seja, irá reagir. A expectativa, na maior parte das vezes, é que a pessoa retribua com o mesmo impulso que recebeu, em uma situação similar a alguém que tenta empurrar uma parede.

Alavancagem: há diversas formas de se alavancar no mundo das empresas. Você pode conseguir recursos, montar uma empresa e transformá-la em algo maior em um determinado espaço de tempo. Ou você pode se endividar e aplicar os recursos em projetos mais rentáveis. Você pode ainda se alavancar em uma equipe, considerando que 10 pessoas pensando com um objetivo comum podem causar muito mais impacto do que uma pessoa sozinha, por mais talentosa e competente que ela seja.

  • Biological World: Incentives Cooperation, Tendency to Minimize Energy Output (Mental & Phisycal), Adaptation, Evolution by Natural Selection, The Red Queen Effect, Replication, Hierarchical and Other Organizing Instincts, Self-Preservation Instincts, Simple Physiological Reward-Seeking, Exaptation, Ecosystems, Niches e Dunbar`s Number

Sim, os seres humanos são sistemas biologicamente programados. Somos um pouco mais complexos, mas funcionamos com mecanismos similares a alguns dos seres vivos que habitam este planeta. Também temos instinto de autopreservação e tendência a minimizar nossos gastos de energia, por exemplo. Selecionei dois modelos para aplicação a empreendedores:

Hierarquia e outros instintos organizacionais: este é um tema que pode ser polêmico, mas assim como outros animais, nós humanos também temos um instinto de hierarquia. O excelente filme The Experiment (2010), uma refilmagem de uma produção alemã com o mesmo nome, reproduz o experimento feito com estudantes em uma prisão de Stanford e que mostra como somos influenciados pela autoridade. Sem dúvida que é um exercício extremo, mas basta ver como as equipes de trabalho espelham características dos chefes, ou como os filhos imitam os pais, para ver que este instinto está muito mais presente no nosso dia a dia do que pensamos. E ele se sobressai ainda mais em situações de stress ou de incerteza. Portanto, os empreendedores têm a responsabilidade de agir de forma correta e cuidados, pois querendo ou não, verão suas atitudes refletidas no comportamento de suas equipes.

Ecossistemas: Assim como os organismos interagem e coexistem em determinados ecossistemas, temos visto de forma recorrente no blog, o impacto que o ambiente traz para a atividade empreendedora. Fazer parte de um ecossistema com acesso a bons profissionais, capital, infraestrutura, fornecedores e clientes, é fundamental para a atividade empreendedora. Por este motivo, ecossistemas empreendedores como o Vale do Silício, a cidade chinesa de Hanghzou, a cidade canadense de Waterloo, Israel ou os clusters italianos, são e continuaram sendo, o berço de muitas empresas inovadoras no mundo.

  • Human Nature and Judgment: Trust, Bias from Incentives, Pavlovian Association, Tendency to Feel Envy and Jealously, Tendency to Distort Due to Liking/Loving or Disliking/Hating, Denial, Availability Heuristic, Representativeness Heuristic, Failure to Account for Base Rates, Tendency to Stereotype, Failure to See False Conjunctions, Social Proof (Safety in Numbers), Narrative Instinct, Curiosity Instinct, Language Instinct, First-Conclusion Bias, Tendency to Overgeneralize from Small Samples, Relative Satisfaction / Misery Tendencies, Commitment & Consistency Bias, Hindsight’s Bias, Sensitivity to Fairness, Tendency to Overestimate Consistency of Behavior (Fundamental Attribution Error), Influence of Stress (including Breaking Points), Survivorship Biases, Tendency to Want to Do Something (Fight/Flight, Intervention, Demonstration of Value, etc) e  Falsification / Confirmation Bias

Todos os modelos de julgamento e de nossa natureza humana deveriam ser entendidos e incorporados. Temos que estar atentos a eles, pois muitas vezes nos levam a decisões viesadas, que acabam não sendo as decisões mais corretas. Grande parte deles estão no nosso piloto automático e predominarão caso não estejamos despertos para fazermos algum ajuste. Se dominados, estes modelos são úteis para o empreendedor, por exemplo:

Instinto Narrativo: somos chamados de o “animal contador de histórias”. Damos sentido para as nossas narrativas e através delas transmitimos nossa cultura e nos organizamos socialmente. Nossas religiões, nossas instituições e nossas empresas são ficções, historias inventadas que só funcionam porque muita gente acredita nelas, como brilhantemente nos mostrou o historiador israelense Yuval Harari, no seu livro Sapiens. Contar histórias e convencer as pessoas através delas é uma das habilidades fundamentais para o empreendedor.

Curiosidade: um empreendedor vive de novas ideias. Sejam produtos, mercados, novas formas de fazer as coisas. Para inovar e para identificar oportunidades, o empreendedor precisa ter este instinto de curiosidade.

  • Microeconomics and Strategy: Opportunity Costs, Creative Destruction, Comparative Advantage, Specialization (Pin Factory), Seizing the Middle, Trademarks, Patents and Copyrights,  Double-Entry Bookkeeping, Utility (Marginal, Diminishing, Increasing), Bottlenecks, Bribery,  Arbitrage, Supply and Demand, Scarcity e Mr. Market

O empreendedor se move no mundo das empresas ou de organizações. E elas estão moldadas por modelos de gestão (mentais) que precisam ser conhecidos, seja diretamente pelo empreendedor ou por alguém da equipe. Maior ou menor ênfase serão dados a alguns destes modelos dependendo do ramo de negócios da organização, mas os dois conceitos que destaco abaixo estão presentes em 100% delas:

Oferta e Demanda: estas são as leis básicas em um mercado de consumo. Tem gente querendo comprar e gente querendo vender mercadorias. O mundo está cheio de problemas e você entender a dinâmica destas duas pontas possibilita ao empreendedor identificar demandas não atendidas, gerar novas demandas ou simplesmente definir o preço mais adequado para seu produto ou serviço.

Gargalo (bottleneck): “um gargalo descreve um lugar em que um determinado fluxo (tangível ou intangível) é interrompido, impedindo o movimento contínuo”. Para um negócio, um eventual gargalo, seja na distribuição, na área de tecnologia, em alguma linha de produção, ou mesmo na área legal/regulatório, por exemplo, poderia inviabilizar a entrega do produto ou do serviço requerido pelo cliente.

  • Estratégias Militares: Seeing the front, Asymetric Warfare, Two-Front War, Counterinsurgency e Mutually Assured Destruction

Pergunte para o modelo de inovação de Israel e vai entender a importância de incorporar modelos militares a sua estratégia. Conquistar territórios de vendas ou de pedaços de terra podem ser parecidos dependendo de por que ângulo você olhe. Então modelos mentais de guerra valem para muitos tipos de guerra.

Olhar o Front: você foi lá ver ou te falaram como era? Ir ver as coisas in-loco muda a sua perspectiva. É muito importante, sobretudo em momentos de crise, onde è preciso tomar decisões rápidas e sem muita informação disponível. Mas serve para todos os momentos da empresa.

No fim, os modelos mentais são ferramentas para a tomada de decisão. Eles simplificam a realidade e permitem entender determinados fenômenos e atuar para resolver problemas.

Vale a pena repassar todos eles no artigo original. Se achar que algum deles é mais relevante para os empreendedores do que os que eu listei aqui, não deixe de comentar.

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