O Clique de 1 Bilhão de Dólares

O clique de 1 bilhão de dólares: a história do Instagram

Filipe Vilicic

O livro do jornalista Filipe Vilicic conta a historia relâmpago do Instagram, de seu lançamento até a venda para o Facebook por USD 1 bilhão. Em 18 meses, dois empreendedores, um americano (Kevin Systrom) e outro brasileiro (Mike Krieger), transformaram um aplicativo de fotografias aparentemente normal em um negócio exponencial com milhões de usuários.

Engraçado como uma história tão curta pode nos trazer uma série de informações interessantes sobre a dinâmica do mundo atual e da cultura do Vale do Silício, que segue se expandindo para diversas partes do mundo.

Velocidade: a tecnologia e a internet aumentaram a velocidade com que as coisas acontecem para as empresas e para as pessoas. Na primeira semana, o Instagram já tinha 100 mil usuários. Em pouco tempo, alcançou o seu primeiro milhão de downloads. Depois da primeira rodada de investimentos, ainda na fase pré-lançamento do app, Kevin e Mike mudaram o nome e o foco do Instagram, em uma “pivotada” relâmpago que pegou muita gente de surpresa. E antes de conseguirem arrecadar o seu primeiro dólar e nem saber como iam rentabilizar o app, ele já estava vendido. Neste mundo da tecnologia, as empresas crescem e desaparecem da noite para o dia.

Febre das Start-ups: em um mercado em que as barreiras de entrada quase não existem e o capital é abundante e ávido em descobrir a nova bola da vez, é natural que muita gente esteja disposta arriscar a sorte. Grande parte destes empreendedores e investidores de ocasião quer montar algo que possa chamar a atenção de alguém maior, vender a empresa por um bom preço e nada mais. Uma espécie de corrida do ouro, onde quem chegar primeiro, leva.

Teoria do Breakpoint: o livro resgata um conceito interessante da teoria de redes, o breakpoint, ou o ponto onde a quantidade de conexões de uma determinada rede passa a ser incontrolável e a rede quebra ou começa a deteriorar-se. É o que acontece também no mundo das redes sociais, onde a quantidade de usuários e o fluxo de informações são os principais ativos.

Alem dos três elementos destacados nos parágrafos anteriores, a historia instantânea do Instagram também é rica em componentes mais tradicionais de histórias de empreendedorismo, ingredientes importantes para o sucesso de qualquer empreendimento:

Ambiente: Kevin e Mike se conheceram em Stanford, onde os dois fizeram faculdade e, apesar de terem dois anos de diferença e fazerem cursos diferentes, participaram no Mayfield Fellows, um programa onde os melhores alunos de cada ano eram escolhidos para uma formação de quatro meses com foco em inovação e aulas de diversas especialidades. Nesta etapa, sem dúvida desenvolveram ainda mais sua cognição empreendedora. Os dois saíram de Stanford (Mike ainda fez um MBA) e foram trabalhar diretamente no Vale do Silício, onde as coisas realmente acontecem para os empreendedores de tecnologia. De Stanford ao Vale do Silício, respiravam empreendedorismo 24 horas por dia e montaram uma rede de contatos imbatível para quem quer empreender.

Equipe: o Instagram foi fundado por um empreendedor-vendedor (Kevin S, o americano) e um empreendedor-técnico (Mike Kruger, o brasileiro). Os dois tinham boas doses do chamado MDC (mínimo denominador comum) dos empreendedores: garra, coragem e otimismo. Mas, tinham perfis diferentes, que se complementaram na formação de um time super eficiente para a empreitada. O primeiro concebeu a ideia inicial e, via seus contatos, conseguiu levantar o capital com o primeiros investidores do aplicativo. O segundo, tornou tudo realidade e tinha a capacidade técnica e expertise suficiente para colocar o app no ar e garantir sua performance. Além disso, cuidou do design do aplicativo. Nenhum dos dois conseguiria fazer o que fizeram se estivessem sozinhos. Suas habilidades complementares foram fundamentais para o sucesso do Instagram.

Timing: além da competência da dupla fundadora, o Instagram era o aplicativo certo na hora certa. Foi criado em um momento de transição das aplicações web para mobile. Quando ninguém ainda tinha conseguido emplacar no novo canal. Os dois colegas de Stanford souberam alavancar no ponto frágil do Facebook até aquele momento. Se tivessem lançado o mesmo aplicativo 1 ano depois, provavelmente não teriam tido o mesmo impacto para os usuários e para o mercado.

O livro foi publicado em 2015 e deixava muitas dúvidas em relação ao futuro do Instagram após a aquisição do Facebook (que ocorreu em 2011). Depois disso a rede só cresceu e continua figurando como um dos principais aplicativos de redes sociais do mundo. Mike e Kevin deixaram o Instagram e o Facebook em setembro do ano passado, segundo fontes da imprensa, por desavenças com Mark Zuckerberg em relação a privacidade dos usuários.

Não sabemos como seguirá a história do aplicativo e dos fundadores, mas o Instagram é um caso inegável de sucesso e um exemplo de como o Facebook tem conseguido superar o breakpoint e continuar crescendo, alavancado-se em soluções adquiridas de terceiros. Agora acabaram de lançar a Libra, sua cripto moeda, em uma iniciativa ousada que pode transformar a industria de meio de pagamento. A rede social ainda está longe da capacidade de outros gigantes da indústria como Google, Apple e Amazon, mas segue inovando.

Vamos ver até quando.

Alguns passagens destacadas do livro:

“Eu estava imerso neste clima de inovação. Tanta tecnologia, tantas startups. Pra todo lugar que você olha, em Stanford, em cafés, em São Francisco, há caras sentados criando coisas e mais coisas em laptops. Não sei o que acontece, mas parece que tem algo na água ali que desperta o que há de empreendedor nas pessoas” Mike Krieger, sobre o Vale do Silício, que segundo o autor do livro, todo o ano abre 4 mil empresas e que concentra 77% do Capital de Risco da Califórnia e 50% deste tipo de investimentos nos Estados Unidos.

“O que temos de mais valioso não são as empresas ou as universidades, mas a cultura. Uma cultura onde incentivamos quem tenta muito, mas falha. Pois sabemos que são dos erros que depois surgem as melhores inovações. E mesmo se alguém insiste, mas não consegue ter sucesso como empresario, ele é aceito. Visto por aqueles que tiveram sucesso como alguém criativo, que foi atrás das suas ideias e por isso é valioso para ocupar altos cargos executivos. Uma cultura em que, embora movimente montantes absurdos de dinheiro, não é a grana o que mais importa. O que vale são as invenções e como tentamos mudar o mundo com elas” de Nolan Bushnell, criador do Atari, em depoimento ao autor do livro.

mike_krieger

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