
Outro dia, organizando um material coletado para a minha pesquisa, de modo totalmente acidental e aleatório, dois artigos ficaram lado a lado a minha frente. Imediatamente pensei se poderia haver alguma correlação direta entre eles.
O primeiro, “The Cognitive Perspective in Entrepreneurship: An Agenda for Future Research”, publicado no Journal of Management Studies, da Inglaterra, falava de cognição empreendedora. Mais especificamente, de uma análise de metadados de 154 artigos acadêmicos relevantes sobre cognição empreendedora publicados de 1976 a 2008.
O segundo, era uma nota técnica para uma aula de liderança que tive a oportunidade de ler durante o Programa para Alta Dirección (PAD) que fiz no IAE, de Buenos Aires: “La Reflexión interior y el ejercicio del liderazgo”, da argentina Sara Caputo.
Em um outro paper sobre a tomada de decisão dos empreendedores, que repassamos por aqui em março deste ano, já tínhamos nos deparado com a definição de cognição empreendedora como “o conhecimento estruturado que as pessoas usam para fazer análises, julgamentos e decisões envolvendo avaliação de oportunidades, criação de negócios e crescimento”.
O artigo do jornal of Management, apesar de concordar com que os empreendedores e fundadores pensam de forma diferente dos demais indivíduos, e em uma tentativa de organizar a extensa literatura a respeito do tema, sugere um passo anterior e parte para a definição do que seria cognição, antes de discutir uma eventual cognição empreendedora. Apresenta o que seriam os três componentes, que em conjunto, caracterizariam as pesquisas cognitivas na atualidade:
- Mentalismo: que estuda a representação mental que cada indivíduo faz de si mesmo, dos demais indivíduos, de eventos e contextos. Em outras palavras como a percepção e interpretação das circunstancias direcionam as ações dos indivíduos.
- Orientação a Processos: estuda como as representações mentais são desenvolvidas, transformadas e utilizadas. As abordagens de perspectiva computacional, por exemplo.
- Articulação da Cognição em diferentes níveis de Análise: em outras palavras, como o indivíduo interage com o ambiente que o rodeia e como opera em forma de grupo, sejam organizações, famílias, empresas e na própria sociedade.
As três abordagens já vimos passando pelo blog, em maior ou menor profundidade. As diversas histórias de vida dos empreendedores trazem exemplos variados de indivíduos em ação interagindo e transformando o seu entorno. O processo de empreendedorismo proposto por Kerr et all é um exemplo de combinação de mentalismo com a articulação cognitiva. O resolvedor de problemas (GPS), de Newell e Simon e o Mágico Numero 7, de Miller são dois bons exemplos da perspectiva computacional da mente humana.
O otimismo aprendido, de Seligman e a garra, de Duckworth são exemplos de como os indivíduos, via mudanças nos seus mindsets, conseguem transformar seu comportamento. Auto-reflexão e autoconhecimento são o ponto de partida para estas mudanças de representação mental. São também ingredientes básicos para o exercício de liderança. Ambos são conceitos muito estudados e pouco aplicados pela maior parte das pessoas. É como uma informação represada. Está disponível para quem quiser, já é quase clichê e senso comum, mas quase ninguém usa.
Aplicar a teoria é mais fácil do que parece. Começa com parar e… pensar. Sobre suas ações, as coisas a sua volta, em quem você é, como você vai gastar o seu tempo neste planeta. A partir daí você começa a gerir o tempo de forma diferente e pensar em minutos, em dias, em anos, as metas e sonhos surgem sem esforço. Esta reflexão contínua deveria estar disponível para todos os cidadãos, como um direito, equivalente e comer, trabalhar, dormir, respirar. E na verdade está.
Os empreendedores entendem isso de forma quase natural. E constroem os seus próprios caminhos. Empreendedores agem com o lado direito da matriz elaborada por Sara Caputo, na nota do IAE, reproduzida abaixo:

Sara fala de um líder com uma “mente diagnóstica”, para observar e interpretar, um “estômago adaptativo”, para ter a coragem de intervir enfrentando conflitos e um “coração nobre”, que dê sentido ao risco de assumir a frustração de expectativas, o status quo.
“Tudo é uma questão de manter, a mente aberta, a espinha ereta e o coração tranquilo”, como –quase– diria o Walter Franco.
https://www.youtube.com/watch?v=liyyV9mA-kA

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