A vida de Olavo Setubal

Desvirando a página: a vida de Olavo Setubal

Ignácio de Loyola Brandão e Jorge J. Okubaro

Olavo Setúbal foi um dos principais responsáveis pelo crescimento e consolidação do Banco Itaú como um dos maiores bancos brasileiros. Mas, também fundou uma start-up, a Deca, e ajudou a organizar a Duratex e outros negócios da família Setúbal. Foi prefeito de São Paulo, candidato a governador e Ministro das Relações Exteriores no governo do José Sarney. Um baita de um administrador, com energia inesgotável, um dos maiores empreendedores brasileiros do século XX.

Nasceu em uma família da elite paulistana. Seu pai, Paulo Setúbal, foi um self-made-man, escritor, empreendedor, fazendeiro e político. Olavo era o primogênito da família e tinha mais duas irmãs. Teve uma educação de primeiro nível e se formou como engenheiro na Politécnica de São Paulo (USP).

Aproveitando o início do movimento de industrialização brasileira, fundou sua primeira empresa com um colega da faculdade: a Deca, que no início fabricava peças para máquinas industriais. O negócio ia muito bem, quando foi convidado por seu tio, Alfredo Egydio de Souza Aranha, para ajudar na gestão da Duratex, a empresa de chapas laminadas da família. Deu jeito na empresa e, como bônus, assumiu um cargo de diretor com carta branca no banco. Entrou no banco com 37 anos e em dez anos, liderou o Itaú no processo de consolidação do sistema bancário, incorporando e fusionando diversos bancos. O banco passou de número 52 para o segundo lugar entre os privados.

Desde o começo, Olavo tinha em sua cabeça a alternativa de fundar empresas como algo natural, normal. Foi treinado para ser um administrador. Engenheiro, era metódico, racional e pragmático, focado na ação e na resolução de problemas. Usando técnicas inspiradas nas linhas de montagem industriais, informatizou o banco e preparou o Itaú para crescer. Tinha claro desde o começo que a contabilidade era o caminho para organizar e entender os negócios. “Fiz da contabilidade a viga-mestra de minha gestão em qualquer empreendimento”.

Através dela e do controle apurado dos números, Olavo entendia onde estava parado e armava as estratégias. Administrando o banco a partir do back office, trouxe muitas inovações para o banco e ajudou a construir o mercado financeiro brasileiro. De suas ideias nasceu, por exemplo a Itautec, prestador de serviços de tecnologia e que chegou até a fabricar computadores. O Itaú foi pioneiro na magnetização de cheques, nas implementações de Caixas Eletrônicos e em internet-banking no Brasil.

Olavo montou uma equipe leal de engenheiros, muitos deles da época da Duratex, que mudaram a cara da empresa. “Um banco não se faz apenas com capital. Ele é construído por homens e ideias. Esses dois elementos são o maior lastro”. Até hoje o Itaú ainda é conhecido como o banco dos engenheiros.

A carreira exitosa no mercado empresarial deu a Olavo as credenciais para ser indicado pelo governo militar a prefeitura de São Paulo. Exerceu o cargo com dedicação, eficiência e muita responsabilidade e levou muitas das boas práticas de gestão do setor privado para o setor público. Inovou também no setor público. Implementou um sistema de orçamento e mudou leis relacionadas à propriedade, separando o direito de propriedade do direito de construção, exigindo contrapartidas de benfeitorias para as localidades. Tinha o foco dos investimentos canalizados para a Zona Lesta da cidade, onde se concentravam os setores mais carentes da sociedade. Sua meta era integrar esta zona ao restante da cidade. Durante seu governo acabou tendo pouca simpatia da classe média e das elites e era comumente chamado de “banqueiro comunista”.

Saiu da prefeitura e voltou ao banco. Pouco depois, acabou sendo preterido para o governo do estado. Mais tarde foi Ministro das Relações Exteriores.

O compromisso e a dedicação que colocava em cada uma das atividades, certamente era um reflexo de alguém que gostava do que fazia, não tinha medo dos desafios, sempre acreditava que poderia agregar valor e fazer a diferença em tudo o que se envolvia. Seriedade, responsabilidade, eficácia, ética de trabalho. Olavo era um exímio administrador e um empreendedor implacável, dois perfis normalmente contrapostos e complementares.

Com estas características agregou muito valor à iniciativa privada e ao setor público. E no fim, ainda foi um grande apoiador e colecionador de arte moderna. Andar pelos corredores do complexo do Itaú, no bairro do Jabaquara, é um passeio por obras dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira. Olavo representa um tipo de empreendedor que ajuda a construir uma nação. Em um país tão carente de ídolos que não venham dos esportes e as artes, Olavo é o tipo de gente que temos que conhecer para que sirvam de exemplos para as próximas gerações.

Abaixo alguns depoimentos de conhecidos coletados no livro:

“Olavo não fazia reuniões. Praticava o raciocínio coletivo. Em torno de uma mesa, da qual participavam vários níveis hierárquicos, alguém dizia alguma coisa, dava uma opinião. Olavo ouvia e dizia “está bom, passava ao outro, ao terceiro. Ouvia todos, sem contrapor, opor ou discutir. Depois, com pragmatismo, estruturava racionalmente o pensamento, sintetizava e chegava à conclusão, ou seja, à decisão. ” Jairo Cupertino, companheiro na Duratex.

“Conservador, precavido e cauteloso com relação às finanças da instituição e rigoroso com a contabilidade, Olavo era inovador nos métodos de operação, nos processos” dos autores do livro.

“Meu pai trouxe para o mundo bancário e particularmente para o Itaú, uma racionalidade muito grande ao processo decisório. A formação de engenheiro que ele teve trouxe outra coisa muito importante, além da racionalidade: a visão clara da necessidade de se criar uma estrutura adequada para o desenvolvimento do banco. Isso diz respeito a questão da tecnologia, que estava surgindo quando ele veio para o mundo bancário. Os concorrentes não tinham dirigentes com esta visão. ” Roberto Setúbal.

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