Traços de Personalidade dos Empreendedores – Uma revisão da literatura recente

Traços de Personalidade dos Empreendedores – Uma revisão da literatura recente

Sari Pekala Kerr, William R. Kerr e Tina Xu

Entender o que move e o que diferencia as pessoas que se arriscam a começar um negócio tem sido objeto de estudo de muita gente pelo menos desde o século 18. Atualmente, cada vez mais pessoas têm escrito sobre empreendedorismo, seja no mundo de negócios, seja no mundo acadêmico. A quantidade e heterogeneidade de fontes é um sinal claro da dificuldade de se chegar a um único empreendedor-típico (o chamado one-size-fits-all).

Recompilar os estudos acadêmicos de diversas áreas do conhecimento (economia, psicologia e administração de empresas) dos últimos 20 anos foi a tarefa destes investigadores da Harvard Business School. O paper (“Personality Traits of Entrepreneurs: a review of recent literature”), que está disponível no site do National Bureau of Economic Research, trata de buscar os pontos comuns entre mais de 100 artigos que abordam o tema “personalidade empreendedora”.

Os trabalhos variam muito em qualidade (principalmente pela quantidade e perfil das amostras), nos termos utilizados e pelas variáveis analisadas em conjunto à personalidade – o sucesso da empresa, seu entorno econômico, rentabilidade, a fase do empreendimento, etc). Apesar desta enorme variedade, alguns traços são comuns a (quase) todos eles, de acordo as principais abordagens de personalidade.

O Big-5 Model, o modelo de personalidade preferido pelos acadêmicos, define 5 principais traços de personalidade: Abertura a Experiência (open to experience – O), Responsabilidade (conscientiouness – C), Extroversão (extraversion – E), Amabilidade (agreeableness – A) e Neuroticismo ou Instabilidade Emocional (neuroticism – N).

Em uma meta-análise com os resultados de 23 estudos feitos entre 1970 e 2002 que comparou empreendedores com gerentes de empresas, chegou-se à conclusão que os empreendedores são mais abertos a experiência e mais responsáveis (no sentindo de maior motivação para fixar a atingir metas), ao mesmo tempo que são menos amáveis e menos neuróticos (O+, C+, E, A-, N-).

Outros estudos individuais têm conclusões diferentes a respeito da responsabilidade e da extroversão, mas todos convergem na maior abertura a experiência dos empreendedores. Este último resultado era mais ou menos esperado quando sabemos que os empreendedores se sentem mais confortáveis (do que os não empreendedores) em ambientes em constante mudança, com novidades e novos desafios. Chama a atenção, entretanto, os resultados neutros em extroversão e amabilidade, considerando a necessidade dos empreendedores de comunicar (e convencer) e ser empáticos (presente no atributo da amabilidade) com vários interlocutores para levar a cabo seus negócios.

Dentre os textos analisados, estavam aqueles que compararam empreendedores ou fundadores com não empreendedores, e que destacam a maior auto-eficácia (pessoa que acredita que pode realizar tarefas e desempenhar papéis de acordo a suas expectativas, metas e motivação), o maior Locus de Controle (pessoas que internalizam que suas próprias decisões controlam suas vidas) e o Desejo de Conquistar Coisas (Need for Achievement) como os componentes de maior diferenciação para os empreendedores. Os três conceitos contêm, em maior ou menor grau, apontam à presença do otimismo em relação ao rumo das suas vidas.

Alguns estudos ainda comparam a atividade empreendedora de acordo ao estágio de maturidade das empresas, a dinâmica de comportamento de saída do empreendedorismo e os riscos envolvidos em cata etapa do desenvolvimento.

Os autores vão analisando os papers e tirando conclusões. Uma delas é que “o empreendedorismo não atua num vácuo e os traços de personalidade, o capital humano e o ambiente impactam diretamente em como os empreendedores atuam. ” Trataram de resumir o que encontraram no modelo abaixo:

Modelo Empreendedor

Pela quantidade de variáveis envolvidas no modelo se vê a dificuldade em estabelecer uma unidade para um empreendedor. Por outro lado, olhando mais atentamente os elementos desta diversidade, podemos vislumbrar caminhos possíveis para se chegar aos objetivos. Não existe uma receita única, mas talvez uma lista de ingredientes comuns. O que fazer com eles e o que vai acontecer depois: it`s up to you!