Sobre o medo de falhar

Sobre o medo de falhar

Difícil começar a empreender se o seu medo de falhar for maior do que a vontade de vencer. Tem gente que simplesmente trava, se paralisa, antes de começar um projeto porque tem medo de falhar no intento. Alguns nem são conscientes de que é o medo da incerteza que faz com que não evoluam rumo a seus objetivos.

Algumas teorias de personalidade incluem a “Prevenção de Danos ou de Riscos” (Hazard Avoidance) como um dos quatro elementos de constituição da personalidade de cada indivíduo. Seria um dos atributos considerados genéticos ou hereditários. Pessoas com esta característica marcada “evitam os riscos. São tensos e preocupados ante situações pouco familiares ou novas. As situações arriscadas ou de perigo não os atraem em nada e têm dificuldades para adaptar-se a mudanças na rotina. Preferem estar inativos e tranquilos”. Curiosamente, a outra cara deste traço é justamente a confiança.

Estas mesmas teorias estabelecem que a personalidade é algo flexível e que pode mudar de acordo as experiências (teoria behavorista) ou ainda pela forma como interpretamos nossas experiências (teoria cognitiva). De uma forma ou de outra, se não nascemos com o grau de confiança necessário para empreender (ou para qualquer outra coisa), podemos ajustar a nossa personalidade. Algo já vimos em relação a paixão e perseverança. Mais para frente, vamos ver como ajustar nosso grau de otimismo e, consequentemente, nossa confiança.

O medo de falhar, além de um traço de personalidade, pode ser ampliado para uma característica cultural, que varia de país para país, por exemplo. Há algumas semanas atrás, vimos que este é um dos traços culturais de Israel, onde o fracasso é parte intrínseca do processo de inovação. Virou até indicador (Fear of Failure Rate) do Global Entrepreneurship Monitor para diferenciar a atividade empreendedora em cada país. No Brasil, 32,6% das pessoas que resolvem empreender têm medo de fracassar no intento, enquanto na Itália o indicador é de 51,7%.

O ponto é que falhar é um processo natural e 100% normal. Se você não falhar, provavelmente não está se empenhando o suficiente. O senso comum diz que cada falha é uma oportunidade para aprender. Se isso for verdade, quanto mais eu tentar, mais chances em tenho de conseguir. Será?

Recentemente foi divulgado pelo MIT Techology Review um artigo a respeito de um trabalho feito por um grupo de investigadores de várias universidades (Yian Yin et All) que tentou responder a esta pergunta. Os pesquisadores se debruçaram em três enormes bancos de dados – os 776.721 pedidos de proposta de pesquisas do NIH (National Institutes of Health), de 139.091 pesquisadoras; os 58.111 investimentos em start-ups, de 253.579 investidores, do National Venture Capital Association, dos EUA; e os 170.350 ataques terroristas, executados por 3.178 organizações terroristas, do Global Terrorism Database – com o objetivo de entender se havia algum padrão associado ao sucesso de cada uma destas empreitadas (colocar terrorismo no meio me pareceu totalmente bizarro, mas vamos em frente).

Sucesso para os pesquisadores era conseguir a aprovação da pesquisa. Para os investidores era realizar a abertura de capital ou a venda da empresa em até 5 anos. E para os terroristas, que ao menos uma pessoa morra durante o ataque.

Em primeiro lugar, o estudo mostrou que o sucesso não é aleatório, fruto do acaso. Comparando a primeira tentativa de cada indivíduo (ou grupo) com a penúltima antes da tentativa bem-sucedida, os investigadores notaram que as qualidades entre ambas eram bem diferentes. As três bases de dados mostravam que a penúltima tentativa chegava muito mais perto do sucesso do que a primeira. Havia algum outro elemento que determinava o sucesso: o aprendizado.

A segunda análise testou, portanto, a hipótese de que a probabilidade de sucesso estaria diretamente relacionada com a quantidade de tentativas. Para surpresa dos investigadores, a resposta foi negativa. Assim como o acaso, somente o aprendizado (medido pela quantidade de tentativas) não explicava sozinho o caminho para o sucesso. Havia algo mais.

Com esta dúvida na cabeça, os pesquisadores desenvolveram um modelo que considerava uma escala de aprendizagem que levava em conta as diferentes tentativas realizadas. Em um extremo estavam as tentativas que continham toda a experiência anterior e no outro, tentativas que descartavam toda a experiência anterior. A análise dos dados mostrou que havia um patamar (threshold) mínimo de “experiências anteriores” que deveria ser incorporado para que as tentativas seguintes fossem melhorando sua qualidade rumo ao sucesso. Caso este patamar não fosse atingido, aumentar a quantidade de tentativas não teria impacto e poderia até afastar os indivíduos dos seus objetivos.

Este descobrimento está bastante alinhado com a conclusão que o pessoal de design do Dropbox chegou com o manual distribuído a todos os funcionários da empresa: o Failure Minded. Um livrinho impresso que incentivava os colaboradores a não terem medo de falhar e explicava que os erros são parte do processo criativo e que quando você falha, é importante refletir sobre o que ocorreu com o objetivo de incorporar melhoras para o próximo intento.

Termino com três frases que estão alinhadas ao tema e ajudam a gente a pensar:

“O maior perigo para a maioria de nós, não é colocar nossos objetivos muito altos e falhar no intento, mas sim colocá-los muito baixos e conseguirmos realizá-los” Michelangelo

“Muitas das falhas da vida acontecem quando as pessoas não percebem o quão perto estão do sucesso, quando finalmente desistem” Thomas Edison, que testou 1.000 diferentes desenhos do filamento de carbono antes de inventar a lâmpada elétrica.

“Faça. Ou não faça. Não existe tentativa” Mestre Yoda, no treinamento do jovem Luke Skywalker